por Silvia Serpe de
http://estacaodanca.wordpress.com/
com trechos de citação do trabalho de Tamaris Fontanella
A diversidade dos povos no Brasil trouxe muita riqueza cultural, entre elas a dança. Fomos colonizados por um país, escravos de outras nações foram trazidos para explorar nossas riquezas, imigrantes de tantos outras contribuíram para a miscigenação presente na sociedade – sem contar a cultura já existente dos índios que aqui habitavam.
Além da riqueza cultural da América Latina os povos do continente, de maneira geral, gostam de se expressar por meio da dança. Os ritmos são quentes e envolventes, como a salsa, o zouk e o samba. O Brasil foi o “criador” do estilo samba de música e dança, e por isso a nossa excelência nesse ritmo. O carnaval é umas das festas que os brasileiros mais gostam. O Sambódramo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, é famoso pelo mundo e o desfile das escolas de samba é um evento enorme que envolve as comunidades do Rio e região metropolitana. Faz tanto sucesso, que expandiu do Rio de Janeiro para São Paulo, e o desfile das escolas de samba de São Paulo é tão procurado quanto o primeiro. Já na Bahia o ritmo que embala o carnaval, na sua grande maioria, é o axé, e as ruas de Salvador lotam de foliões e turistas; em Pernambuco o frevo, um ritmo extremamente acelerado que mistura a capoeira nos seus passos.
A música e a dança fazem parte da nossa cultura, estão no dia a dia dos brasileiros e não é apenas no carnaval que expressamos a paixão por esta arte.
Muitas pessoas gostam de sair para dançar no final de semana, os jovens em especial, por isso a enorme quantidade de casas noturnas. Esses lugares sempre estão cheios e a música é alta, a iluminação trabalhada. As opções existem para todos os gostos, desde música eletrônica, forró, samba e ritmos típicos como a dança do ventre.
Nesses bares que exploram a dança típica os bailarinos se apresentam entre as mesas e convidam os clientes a participar. O Bagdad Café, em Curitiba, é um exemplo: a especialidade da casa é a dança do ventre, além da comida típica árabe e banda ao vivo. Segundo a equipe administrativa do bar, há sempre uma enorme procura e o principal atrativo é a Noite Árabe, que acontece nas quintas-feiras, são
aproximadamente 15 bailarinos e bailarinas nessa noite especial. O Bagdad Café tem 14 anos, abre de terça a sábado e todos os dias a casa fica lotada. As bailarinas interagem com os clientes, tanto homens quanto mulheres, sem contato físico e sempre respeitando os demais. O bar é um ambiente familiar no qual podem entrar pessoas acima de 18 anos e menores com responsável.
Mas a dança não move apenas o mercado de bares e casas noturnas, muitas pessoas a procuram como maneira de exercitar o corpo e a mente. Bruna Carvalho faz bale há 10 anos e afirma que a dança proporciona bem estar e também ajuda na forma física, além de ser uma ótima maneira para extravasar o estresse. A dançarina Sindy Suzuki, de 25 anos tem a dança como parte essencial da vida. Na infância
fez aulas de bale e jazz. “Na adolescência deixei a dança de lado, mas voltei a dançar com 23 anos!”, diz Sindy animada. Voltou “bailando” dança de salão, quando foi morar no Rio de Janeiro, agora que mora e estuda em Curitiba o tempo está um pouco corrido para a dançarina. “Eu sempre gostei de dançar, é uma paixão mesmo, e acho que é uma forma de eu exercitar o corpo e a mente. Quando estou dançando, consigo esquecer os problemas e a correria do cotidiano, e acho uma forma mais dinâmica para se fazer uma atividade física. Eu já tentei ir para academias, mas eu acho muito chato, muito monótono.”. Sindy mescla o seu tempo com a faculdade, ela é estudante de jornalismo, e o estágio, mas sempreque pode sai para dançar com as amigas. “Atualmente, eu danço conforme o tempo”, afirma Sindy que pretende aprender sertanejo e salsa.
Assim, a dança movimenta outros setores econômicos, como as escolas especializadas, cada uma com sua especificidade. Umas usam sistema de horas, que funciona com um cartão, cada hora é descontada do cartão, como é o caso da Escola de Dança Latina, o dono e professor da escola, Walmir Satter, fala que esse sistema funciona muito bem, principalmente com casais mais velhos, que frequentam a casa como hobbie. Ou mesmo o mais tradicional que é o pagamento por mensalidade com horário fixo. Os cursos variam de preço, mas em Curitiba os de dança de salão custam em torno de 80 a 90 reais mensais.
O Núcleo de Dança Espaço Ânima existe há três anos. A proprietária e bailarina Tamaris de Campos Fontanella desenvolveu a modalidade da Theadança, que é um trabalho terapêutico destinado à mulher. “A Theadança tem como objetivo a expressão do sagrado feminino, unindo as danças ancestrais de devoção (orientais, polinésias e indo-europeias, dança do ventre, cigana, flamenco, hula), resgatando uma atmosfera onde a mulher está mergulhada em segredos próprios e poderes, que certamente é revelado na prática da dança e no contato consigo,” explica. O ambiente onde fica o Núcleo de Dança Espaço Ânima é uma casa pequena e aconchegante, com o assoalho de madeira e filtros dos sonhos
pendurados no teto, a decoração é lilás, tornando o ambiente feminino, alegre e romântico.
Tamaris tem 36 alunas e trabalha com a dança do ventre, dança tribal ats e fusion, havaiana e cigana, unindo-as na Theadança. Ela é também terapeuta corporal e não dança com o objetivo de sobreviver apenas dela, mas sim para alcançar uma satisfação mais completa. “Danço para realizar o movimento da vida e não tento viver dançando”, afirma Tamaris sorrindo. A dança do ventre é composta por uma série de movimentos, vibrações, impactos e ondulações, realizados com o quadril e tronco – separadamente ou combinados. Os movimentos usam ainda ondulações e vibrações dos braços e das mãos e rotações que envolvem o corpo como um todo.
A tribal ats/fusion é uma releitura de outras danças, proporcionando para o seu evento alegria, interação com diversas modalidades de dança numa abordagem moderna. A dança havaiana é popularmente conhecida como hula e é uma tradição passada de geração em geração que, no Havaí, é um estilo de vida da religião ancestral desse povo. Ela assumiu o seu caráter de performance após a ocupação estrangeira no país. A dança cigana possui vários estilos por causa das diferentes culturas…. – explica Tamaris.
O Manawa Theadança é o grupo de Tamaris Fontanella, que participa em diversos festivais, concursos e apresentações. Fazem parte do grupo as alunas que querem e têm um bom desenvolvimento nas aulas. Dependendo do tempo de aprendizagem elas participam do grupo, começando por apresentações mais simples até teatros, competições e eventos. Tamaris possui também o próprio espetáculo, chamado Mulheres Dançando a Vida, que acontece uma vez ao ano e integra os circuitos do Dança Curitiba, Dia do Desafio, entre outros.
O Dança Curitiba Circuito é um programa tradicional realizado pela Secretaria de Esporte e Lazer da cidade e tem por objetivo difundir a dança como meio sócio-cultural, proporcionando opções de lazer à comunidade e oportunizando aos profissionais da dança a divulgação da sua arte, a descoberta de talentos coreográficos, gerando um intercâmbio com vistas a engrandecer a arte, cultura e o movimento em Curitiba. Em 2010 teve a sua 27ª edição e aconteceu em teatros e no Memorial de Curitiba, localizado no Largo da Ordem. A entrada é sempre gratuita e envolve diversas modalidades como dança de salão, jazz, danças típicas, folclore, balé, hip hop, entre outras e as equipes de dança que participam do festival são convidadas pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. Segundo a coordenadora do Dança Curitiba Festival, Leloir de Fátima dos Santos, em 2010 aproximadamente quatro mil pessoas assistiram o Dança Curitiba.
A Fundação Cultural de Curitiba (FCC) é o órgão responsável pela cultura na capital e visa promover, difundir e fomentar a cultura e suas manifestações na área das Artes Cênicas, como a música, literatura, artes visuais, áudio visual e patrimônio cultural, conta a coordenadora de dança da FCC, Eleonora Greca, o incentivo financeiro para a dança é dado através dos fundos municipais de cultura. A Fundação tem parceria no Festival de Teatro de Curitiba, Festival de Música e outros. Outro incentivo a essa arte é a Casa Hoffman, que faz parte da FCC, ela é um centro de estudo do movimento, onde também acontecem oficinas, debates, pesquisa e apresentações, com a finalidade de desenvolver e a criação na área da dança. Essas oficinas e cursos na Casa Hoffman são sempre gratuitas, os interessados devem mandar um e-mail para a Casa e a programação mensal é enviada ao interessado. “As pessoas estão cada vez mais interessadas, participativas e comparecendo em todas as atividades da Casa”, conclui Eleonora.
Ana Paula dos Santos, estudante de jornalismo e apaixonada pela dança, já dançou várias modalidades desde o balé, até o street dance, mas prefere as danças populares e folclóricas, como a dança alemã e o can-can. “Me apaixonei pela dança quando entrei na Academia Corpo Livre, em Joinville, a professora de dança da academia dava aulas na minha escola e me convidou para entrar no grupo de dança. Tive que dedicar muito tempo da minha vida para a dança, pois ensaiávamos todos os dias, até sábado e às vezes no domingo”, conta Ana Paula.
A estudante ainda conta que participou de vários festivais, como o de Joinville, e em várias cidades do estado, o grupo também apresentava-se nos hoteis, praças e em várias partes da cidade. Dançou oito anos com este grupo, parou apenas para estudar, como não tinha mais disponibilidade de tempo, optou por deixar a dança, mas afirma que uma das suas paixões é a dança, além de fazer bem para a auto-estima e para o corpo, Ana Paula fez muitas amizades quando dançava, “Conheci várias amigas lá, nos considerávamos uma família, pois vivíamos juntas. Todos os dias.” Ana Paula conta que o seu grupo de dança ganhou várias vezes e foi chamado para divulgar a festa das flores em Joinville. “É único quando você entra em um palco e vê milhares de pessoas te olhando e aplaudindo”.
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